quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Capítulo XI – Um Imenso Abismo de Agonia


Paula estava na casa de sua tia Laís. Ela contara sobre a experiência que tivera com o tal espírito Sebastião.

– Filha, isso que aconteceu com você pode ter sido apenas um sonho mesmo. Não necessariamente algo espiritual. Isso pode ser sua própria mente tentando falar pra você deixar isso pra lá.

– Deixar isso pra lá? – Questionava Diego, participando daquela reunião. Sua presença deixava Paula aflita. Ela sabia, mas parecia não ligar muito. – Aquele capeta me matou e o outro lá todo bonzinho fala pra rezar pra ele? E eu? Eu quem sou a vítima aqui!

– É tia, talvez a senhora tenha razão mesmo...

– Ah, isso não vai ser tão simples assim.

Diego colocou a mão sobre a cabeça de Laís, que sentiu um imenso mal estar e levou a mão no peito e depois na garganta.

– Tia, tudo bem? O que a Senhora está sentindo? – Perguntou Paula preocupada, tentando ajudar a tia.

– Ai minha filha, uma sensação ruim. É como se alguém estivesse querendo se comunicar.

Diego estimulou o ectoplasma¹ sair de Laís. Ela sabia como fazer aquilo. Havia observado várias seções espíritas.

– Hora de explorar novas atividades!

Diego começou a conduzir o aparelho de Laís, que foi falando exatamente o que o rapaz queria.

– Paula... Paula.

–Sim tia, fica tranqüila, eu vou ligar pro resga...

–Paula sou eu, Diego. – A médium falava com dificuldade. Paula sentiu-se sem chão. Seu corpo inteiro gelou. Ela ficou atônita e surpreendida. – Eu sei que está... sei que está assustada, mas você precisa, você tem que encontrar.

– Diego, meu Deus! – Ela chorava – Eu sinto tanto a sua falta... Eu estou com tanto medo.

– Ache o 53 Paula, é a única esperança... – Era como se faltasse o ar à Laís ao falar –, É a única esperança para nosso filho, Paula.

– Mas que droga é essa de 53?

– Ache ele, Paula, encontre o 53.

Laís estremeceu o corpo e sua respiração que antes era ofegante, começou a voltar ao normal. Ela abriu os olhos e olhou para a sobrinha.

– Ai tia... – Paula segurou a mão de Laís. – Era o Diego. Ele me mandou procurar o 53 tia. Mas como eu faço isso sem ao menos saber o que é?

Diego olhava a cena da tia e da namorada.

– Gasta muita energia não é, muleque!

– Coronel Manuel Joaquim! – Diego disse sem olhar para o lado de onde veio a voz. O homem de sobretudo riu medonhamente.

– Fez bem, garoto! Ou ela encontra o 53, ou ela fará parte de nós!

– Seu desgraçado o que você quer? Que porra é essa de 53?

Ele olhou para o Coronel com um olhar que não expressava nada mais além de fúria. O Coronel riu mais uma vez, ele passou ou Paula e alisou seu rosto com sua mão suja e suas unhas grandes e podres. A vontade de Diego era de atracar com ele ali mesmo, mas ñ teve coragem. A presença do obcessor era tamanha que congelava os movimentos do garoto. Ele olhou para Daniel, repetiu a risada diabólica e saiu cruzando a parede da sala que encontravam-se.

– Tia, posso te perguntar uma coisa? – Disse Paula abraçada com Laís, que a confortava.

– Sim filha, o que é?

– O que sentiu quando Diego estava incorporado em você?

– Filha... Tristeza. Um imenso abismo no peito. Sinto muito, tudo que senti foi apenas angustia.

Paula fungou mais uma vez. Ela sabia o que tinha que fazer, apenas não tinha idéia de como.

***X***

1 - Ectoplasma: Substância mediúnica produzida pelos médiuns a qual serve de “combustível” para um espírito se comunicar de algum modo.

Capítulo X - Oração aos Mortos Diabólicos


Três noites? –, questionou Sebastião. – Não, Coronel não trabalha com tempo específico. Isso é algo que você deve deixar pra trás.

Paula e o espírito de branco caminhavam pelos corredores do cemitério. Ela havia contado tudo àquele homem. Ele se apresentara como um amigo e esteve disposto a ouvir a jovem.

– Aquele túmulo, o numerado 53, é lá que ele está enterrado, não é?

– Não Paula, aquilo é só um indigente. Eles são enterrados e posto números em suas lápides. Antigamente era assim.

– Até hoje é assim. – Um breve silêncio acomete àquela situação. – Sebastião, onde está Diego? Ele me trouxe até aqui, supunha que ele estaria aqui.

– Paula, eu sei que amou ele em vida, mas agora a condição dele é outra. Pelo seu próprio bem e da criança que espera, afaste seus pensamentos de Diego e do Coronel.

– O Coronel só me deixará em paz quando eu encontrar o 53. Do contrário ele virá atrás de mim.

– Manuel não virá a seu encalço, ele apenas está usando você para se livrar dos próprios fantasmas.

– Então como eu faço para evitar ele?

– Ore por ele!

– Orar, você está louco? Ele matou Diego e sinceramente, eu não vou pagar pra ver o que acontecerá comigo ou meu filho. Obrigada, Sebastião, você foi muito útil. Super...

Paula saiu batendo forte o pé, furiosa pelo conselho sem sentido do homem de branco.

– Paula, se eu pudesse realmente lhe contar o que Coronel Manuel Joaquim quer...

sexta-feira, 8 de julho de 2011

[OFF] Novidades virão por aí!





Olá pessoal!

O Tio Dooll aqui está subindo mais um "degrauzinho" na carreira de escritor! O segundo livro de A Crônica da Escuridão sai dia 10 de dezembro (YAY!). Ele irá se chamar: A "Crônica da Escuridão - A Ordem Dileriana".

Para quem não conhece a primeira parte da história (A Crônica da Escuridão - A Beira do Abismo Negro) pode obter mais informações neste blog aqui.

Abraços e sucesso à todos!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Capítulo IX - Noite 2 (Parte 2)


Paula caminhava novamente na estrada de pedregulhos. Ela conhecia aquele local... aquela sensação. Ao longe ela pode avistar a banheira. Paula sabia o que tinha ali dentro. A jovem se aproximou.
Ele estava deitado lá, Diego.
Paula aproximou seu rosto do dele. Diego abriu os olhos e puxou ela para dentro da banheira novamente. Paula sabia o que estava acontecendo e, ela quis continuar com aquilo. Sabia que Diego jamais a faria mal. a garota olhava para o namorado dentro da água. Ele não a machucara, mas ele a levava para o fundo. Dentro dali não era uma banheira, parecia mais um lago profundo. Paula foi perdendo o ar e apagou, mas logo em seguida ela despertou em um cemitério. Era dia, o sol banhava o local deixando uma sensação agradável na pele. Haviam muitos túmulos ali. Paula teve a idéia de procurar um-a-um até encontrar o que esperava. O túmulo 53.
Ela sabia!
Diego não estava lhe levando para a morte, mas sim lhe indicando o caminho.
– Olá, Paula – ela olhou para o lado assustada. – Meu nome é Sebastião. – Disse o homem vestido de branco.

Bridge – Angustia


Paula caminhava por um caminho rochoso. O local era gris; desbotado. O vento gelado surrava sua pele fina. Alo longe, ela avistou uma banheira. A jovem foi em direção do objeto e olhou dentro dele. Diego estava deitado. Paula, de certa forma, sabia que estava sonhando. Ela se lembrara do sonho que o namorado a contara. Era mais um daqueles sonhos em que se sabe que está sonhando, mas não consegue acordar. Sonho; real; surreal ou não, Diego estava ali, permanecia dentro da banheira, inerte... morto. Ela mergulhou a mão e tocou o rosto do rapaz.
Paula chorou.
A garota acariciava o rosto do namorado e pranteava simultaneamente. Diego abriu os olhos e segurou a mão de Paula, a puxando para dentro da banheira.

***

Paula despertara.
Ela sabia que aqueles sonhos lhe acometeriam mais cedo ou mais tarde. A garota acendeu o abajur, se sentou na cama e ficou ali, estática. Lembrava do que o espírito lhe dissera na reunião daquela noite: “Existe uma salvação, encontre o 53”. O que ele queria dizer com aquilo? O que era esse tal 53? As perguntas eram muitas, mas Paula sabia que ninguém a responderia. A moça tinha que encontrar esse tal 53, do contrário – ela se lembrou das palavras do obsessor mais uma vez: “Você será mais uma dentre outros”.
Paula estava cansada, seu desgaste físico e emocional era grande. Ela tentou de diversas formas imaginar o que poderia ser o 53, mas o sono a acometera mais uma vez.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Capítulo IX - Noite 2 (Parte 1)

Diego estava ao lado de Paula naquela reunião. A garota se mostrava atormentada por todos os pensamentos que passavam por sua cabeça naquele momento. Ela e sua tia Laís estavam em uma reunião espírita. Paula focava em Diego, queria se comunicar com o namorado, mas toda vez que ele se aproximava do médium psicofônico, uma luz branca intensa o repelia. Diego não conseguia estabelecer contato com Paula. A garota deixava escorrer as lágrimas ao ser influenciada pelo desespero do namorado, pela ânsia de uma comunicação. O rapaz tentou de diversas formas, mas a luz que o cegava o congelava, impedindo que concluísse com seu objetivo.
Uma risada opaca e medonha.
Manuel Joaquim. Ele se aproximara passo-ante-passo de Paula.
– Seu desgraçado! – Exclamou Diego. – Saia de perto dela.
– O que houve, fedelho? A luz não deixa comunicar? – Diego engoliu seco. – Deixe-me lhe mostrar como se faz!
Manuel, em um impulso, entrou naquela luz que envolvia o médium sentado a mesa. Diferente do que muitos pensam, a entidade espiritual não penetra no corpo do médium, o possuindo, ela na verdade permanece ao lado dele, exercendo sua influencia.
Laís, a médium, foi acometida pela influencia de Manuel. Ela gargalhou caracteristicamente como o Coronel. Seu tom de voz era repleto de deboche e raiva.
– Em que podemos lhe ajudar? – Perguntou o médium doutrinador¹.
– Vocês em nada, mas aquela garota ali sim.
Diferente da maioria dos casos mediúnicos, o aparelho² de Laís, que deveria expressar dificuldade ao falar, ofegante, mas não esboçou o tal. A influencia de Manuel era de tamanha intensidade que parecia que as palavras estivessem saindo por vontade própria da médium.
– Irmão, esse ódio não lhe ajudará, acompanhe esses irmãos de branco ao teu lado – tentava persuadir o doutrinador.
– Irmão de branco? – Manuel riu – Não há ninguém aqui além de mim e aquele pivete, mas ele não consegue se aproximar daqui. Sinto muito senhores, mas seu Deus não está aqui hoje! – Os presentes na reunião se entreolharam assustados.
– Irmão, sabemos que isso não é verda...
– Espere – interrompeu Paula. Todos a olharam. Manuel riu mais uma vez. – É comigo que ele quer falar.

***X***

1: Médium doutrinador: Pessoa responsável em uma reunião espírita em apaziguar os espíritos que chegam atormentados, induzindo-os a serem acompanhados por espíritos acolhedores / entidades superiores.
2: Aparelho: Termo utilizado para o corpo que o médium “empresta” em uma sessão espírita.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Bridge - Obviedade da Dor


Paula caminhava de um lado para o outro na recepção do laboratório. Um exame de Beta HCG confirmaria sua gravidez. Laís estava junto à sobrinha. Não quis deixar a garota desamparada em uma situação daquelas. Paula pensava nos últimos acontecimentos antes de Diego morrer. Ele sonhara com o Coronel por cinco noites seguidas antes do acidente. Cinco noites. Esse era o tempo que teria para impedir Manuel. Uma recepcionista do laboratório havia sorrido para Paula.
– O resultado do seu exame chegou! – Disse a moça com um sorriso amigável.
Paula foi até ela pegar o resultado do exame. Laís ficou de pé segurando as mão, aflita. Paula corria os olhos no papel timbrado, colocou a mão na boca na menção de surpresa.
– Eu estou grávida –, balbuciou à tia.
– Filha, fique calma, tudo que temos até agora são suposições, não se apegue a elas. Esse filho pode significar muita coisa.
– Sim tia, significa. Significa que eu tenho mais quatro noites agora.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Capítulo VIII - Lástimas (Parte 2)


Coronel Manuel Joaquim.
Mesmo a Lei Áurea ter sido assinada em 1888, até meados da década de 50 ainda existia escravidão em Uberaba. Coronel Manuel era um que usufruía do direito banido. Senhor de uma vasta plantação de café, ele tinha uma grande quantidade de escravos em suas fazendas. Viúvo, ele esbanjava sua fortuna financiando festas repletas de álcool e prostituição. Ele não poupava seus três filhos: Humberto, Sebastião e Maria (em ordem de mais velho para o mais novo) das cenas grotescas e burlescas.
Os filhos sabiam da crueldade do pai. Com uma espécie de prazer interior, ele tratava seus escravos como animais. Não pestanejava em os torturar até a morte. Criou muitos inimigos ao decorrer dos anos. Pessoas na cidade diziam que Coronel Manuel registrava terras em seu nome, enxotava os moradores dali e se declarava dono. Um usurpador.
Maria, sua filha mais nova, tinha dois sentimentos latentes dentro de si: o temor pelo pai; e a paixão por Jair, um escravo da fazenda. Eles viviam um romance escondido, porém algo aconteceu, Maria engravidou.
Coronel Joaquim surrou o escravo até a morte. Dilacerou sua carne e deu para os cães da fazenda comerem. Sua filha foi trancafiada em seu próprio quarto. Tijolos foram colocados em portas e janelas, a única entrada era um pequeno vão para passar comida. O pai havia informado a todos que a menina só sairia de lá quando o bebê nascesse.
Maria teve o filho no quarto, sozinha, então o pai cumpriu sua promessa, mandou derrubar a parede de tijolos. Pela primeira vez em seis meses Maria viu a luz do sol. Momento em que ela chorou como uma criança. De forma fria e estúpida, Coronel Manuel retirou a criança dos braços da mãe. Maria nunca mais viu o filho. Coronel Manuel levou a criança até a casa de uma senhora que se dizia bruxa e lá ele sacrificou o bebê em troca de mais poder e fortuna, mas as coisas saíram de seu controle.
Algo estava cobrando de Manuel Joaquim todos seus pecados.
Maria cometera suicídio e, os filhos homens, do Coronel, vendo a que nível que a inescrupulosidade do pai chegou, resolveram interná-lo no Asilo para Loucos Doutor Paulo Lacerda.
Em 1951 Coronel Manuel cometeu suicídio, mas jurou vingança, prometeu destruir todos aqueles que fossem descendentes de seu sangue.
Em 1953, um incêndio na casa de Humberto teve como vitimas fatais sua esposa e seus três filhos. Dois meses depois Humberto se matou com um tiro na boca. Ele dizia ao irmão Sebastião que fora seu pai que provocara tudo aquilo, que fora ele havia assassinado sua família.
1954 Sebastião se casa com Graça, mas ela morreu no nascimento de Clara. Sebastião, que também dizia ver o pai morreu em 1976 de cirrose.
Clara era a única restante, mas ela teve um filho também: Diego. Manuel Joaquim veio atrás dos dois. Ele colocou Clara em um sanatório igual fizeram com ele e assassinou Diego.

***

– Tia, eu não sei se o Coronel vai vir atrás de mim agora por eu ter tido um relacionamento com Diego. A senhora acha isso possível?
– Filha, se formos seguir por essa linha de raciocínio, só existiria uma única explicação para ele vir atrás de você.
– E qual seria?
– Você estar esperando um filho de Diego.

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Capítulo VIII - Lástimas (Parte 1)

Paula fecha o diário de Sebastião. Com um olhar atônito, ela finta o nada, tentando assimilar tudo que foi lido. Foram quase duas horas intensas de uma leitura compulsiva. Sem conseguir se prender ao tangível, a moça anda pelo cômodo de um lado para o outro.
– Meu Deus ...– sussurrava ela insistentemente –, ele  conseguiu, ele destruiu todos eles... Todos!
Do outro lado do quarto Diego estava encostado no batente da porta, ainda atônito com a revelação. Coronel Manuel Joaquim realmente fora um demônio encarnado, mas o que mais impressionava Diego não era sua maldade inescrupulosa, mas sim o fato do Coronel ser sangue de seu sangue. Manuel Joaquim fora bisavô de Diego.

***

Era tarde da noite quando Paula acordou em meio sonhos ruins. Ela não sonhara com Diego, mas pela primeira vez ela sonhou com ele, o Coronel. Assustada e conhecedora da sucessão dos fatos, Paula decide por um basta nisso antes mesmo de começar. Não deixaria que aquele monstro a levasse como fez com seu namorado e toda sua família.

***

No entardecer do dia seguinte, Paula decidiu procurar sua tia Laís, uma médium psicofônica¹. A jovem nunca acreditou muito em espíritos, fantasmas e coisas do gênero, mas mediante aos últimos fatos, não haveria muito mais para “onde correr”.
Três batidas na porta.
– Tia Laís, sou eu, Paula.
– Oi filha! Vamos entrar! – convidou a senhora abrindo o portão para a garota.
Paula passou pela varanda da casa. Um cachorro da raça Pastor-Alemão rosnou para ela.
– Turon, deixe de ser grosso com as visitas. – Laís Reprimiu o cão, que abaixou as orelhas e choramingou baixinho. Elas seguiram até a sala e acomodaram-se no sofá. – Que visita inesperada filha, mas fico feliz de estar aqui.
– Faz muito tempo que não nos vemos, não é tia Laís.
– Ah, faz sim. Se não me engano foi no aniversário de sua mãe, um ano tem isso quase?
– Por aí tia – Paula passou a mão no cabelo trazendo para trás da orelha.
– Está agoniada filha, o que houve?
– Tia, a senhora soube o que aconteceu meu namorado, Diego?
– Sim filha, eu soube pela sua mãe. Eu até fui visitá-la no hospital quando estava em coma, não gosto nem de lembrar. Minhas condolências, Paula, deve está sendo muito difícil pra você. – A velha senhora demonstrou pena pela sobrinha.
– Obrigada tia. A senhora já deve imaginar o por quê eu estou aqui, não é?
– Não –, Laís meneou a cabeça negativamente.
– Eu gostaria de saber de existe um meio de comunicar com ele.
– Olha filha, é muito cedo para isso. Principalmente mediante as condições que ele desencarnou.
– Mas eu tenho sentido a presença dele, tia. – Diego, que até agora apenas acompanhava Paula, assustou com a declaração da namorada. Ele a fitou espantado. – Eu sinto ele se aproximar de mim, me tocar, sinto o cheiro dele. – Paula engolia o choro, porém uma lágrima escapou pelo seu olho esquerdo.
– Criança... isso pode ser saudade.
– Não, não é, eu estou aqui! – Exclamou o rapaz.
– E como isso é possível? Eu ter tanta certeza dele estar comigo?
– Sabe, analisando bem, existe sim uma possibilidade dele estar lhe acompanhando, mesmo cedo assim. Na verdade... duas possibilidades.
– E quais seriam elas, tia?
– Se Diego desencarnou e recusou a aceitar ajuda dos irmãos superiores que vieram acolhe-lo, ou...
– Ou...?
– Ou se Diego estiver se empenhando no mal. Se ele estiver em busca de vingança por alguém ainda encarnado.
– Tia, eu não sei se é vingança por alguém especificamente encarnado, mas existe uma história que assola a família dele. Envolve muita coisa.
– Então conte-me, minha filha. Quem sabe eu posso lhe ajudar.

 
***X***

1 - Médium psicofônico: Médium que incorpora espíritos desencarnados e também em desdobramento.

terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

Bridge - Infernum

O inferno pode ser chamado de diversos modos: Vale da Sombra da Morte, Sheol, Poço Sem Fundo, Gehenna, Sekishiki... Umbral. Em verdade o inferno é feito daquilo que mais nos assombra. Se você teme insetos, viverá em um esgoto. Se temes doenças, seu inferno será repleto de lepra e câncer. O verdadeiro pavor é formado pela podridão que mais lhe agride, forçando-o a uma realidade póstuma utópica.
Inferno.
Ser alguém ruim em vida só tem um caminho: a decadência. Não apenas a moral, enquanto vida, mas também a decadência espiritual. Seu mártir perpetuará até o dia que você provar arrependimento dos teus atos nefastos, e voltar-se ao caminho do bem novamente – ou inicialmente, dependendo do ser em questão.
Coronel Manuel Joaquim não foi um bom homem enquanto vida. Agora, desencarnado, muito menos é. Espalhou a dor e a tristeza. Fez muitos sofrerem. Chegou ao nível mais alto da luxuria e arrogância. Era uma fusão perigosa de poder e dinheiro com frieza e ambição.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Capítulo VII - Ponte dos Desejos Perdidos

Ele poderia ser daquele modo para todo sempre. Paula estaria submissa as suas vontades. Diego nunca sentiu tamanha influência sob qualquer outro ou em qualquer circunstância em todo tempo que teve de vida. Seu único problema era quando não estivesse ao seu lado. E se ela encontrasse outra pessoa? Se Paula quisesse seguir em frente e esquecer de Diego? Não! Ele não poderia permitir isso. Paula era sua única chance de saber o porquê daquilo tudo. Quem era esse tal Manuel? Por que ele teria feito isso? Eu tenho medo é dos vivos –, sempre dizia ele, no entanto Diego foi assassinado por um fantasma. Quantas pessoas provavelmente morrem nessas circunstâncias? Aquele infeliz havia provocado aquele acidente? Resposta que ninguém tinha.
O jovem caminhou pelos corredores do hospital. Como ele odiava aquele lugar. Tudo ali era a mais pura e desesperadora expressão do caos morte. Pessoas – ou almas propriamente dizendo – sofriam em abundância. O local de arquitetura devastada, possuía um ambiente mais horripilante do que qualquer cena jamais vista pelo rapaz. Houve vezes que Diego teve de correr de pacientes que acreditavam que ele fosse um médico ruim. O jovem parou de se aventurar em quartos e em corredores muito escuros por esta razão.
Seres de formas medonhas e bizarras.
Eram monstros de um filme de terror que se materializaram neste local.
Hospital da Morte, era como Diego o chamava. Existia um lugar, um local que Diego sentia um medo crescente toda vez que passava por lá, o corredor dos gritos. Berros de dor de pessoas: mulheres, homens crianças e qualquer outra forma de ser gritava ali. Toda vez que Diego quisesse sair do Hospital da Morte, ele tinha que passar pelo corredor dos gritos. O rapaz fechava os olhos e corria em direção a porta de saída. Entrar e sair do Hospital da Morte era uma tarefa tenebrosa... mórbida. Teria que compensar muito para tal façanha.
Há algum tempo o jovem desencarnado procurava por Sebastião, o homem que o entregou a realidade de morto. Diego queria saber mais sobre sua vida póstuma, do que mais poderia tirar proveito. Algumas das coisas que ouviu enquanto vivo eram realmente verdadeiras, outras não. Mas o que mais lhe agradava era o fato de poder estar onde quisesse quando quisesse. Bastasse ter um médium para doar fluídos e PAM!, Diego o acompanhava e ia ao destino desejado. Ele sempre desejou conhecer a Ponte de São Francisco, em New Orleans. Ele se encantava quanto sua construção; sua ambientação. Agora não era o momento para isso, além do mais, Diego tinha coisas mais importantes para resolver agora: quem era ele.

***

Paula, vendo que Clara não podia a ajudar muito deixava o sanatório com um pensamento de derrota; fracasso, mas suas intenções foram salvas quando a enfermeira que lhe indicou o quarto de Clara correu até ela e pediu para que ela esperasse, pois a mãe de seu namorado estava lhe chamando de volta.

***

– Diego não foi de todo mal – falava a mãe –, porém ele sempre me hostilizou por eu ser médium. Eu vejo, escuto, converso com gente morta. Eu não estou louca, este definitivamente não é meu lugar. Por favor, Paula, você me conhece, eu não sou louca! Me tira daqui!– Clara não parecia a mesma pessoa com que Paula falou nos últimos quinze minutos atrás. Ela estava mais calma, conciente da realidade.
– Dona Clara, eu entendo suas concepções sobre mediunidade, sou espírita também e acredito na senhora, mas eu não posso ajudá-la. Isso depende do doutor Arruda, se eu pudesse eu ajudaria, acredite.
– Se eu te ajudar, você promete fazer de tudo para me tirar daqui? – Paula, ficou estática observando a mulher.
–  Sim, eu prometo fazer o possível para ajudar a senhora.
Clara sorriu.
Vá até meu quarto, em minha casa. Dentro de meu guarda-roupa procure por um sobretudo. Olhe em um dos seus bolsos e encontrará uma chave. Escondido de baixo do guarda-roupa tem uma mala velha de viagem de couro marrom. Ela está trancada. Abra a mala com essa chave. Lá você encontrará as respostas que procura.
– Certo! Dona Clara, muito obrigada!
– Obrigada? - Clara já possuía o mesmo olhar insano de antes –. Você não está entendendo filha, quando você abrir essa mala, sua vida irá mudar. Eles lhe perseguiram até o dia de sua morte. Não haverá volta. Seu destino será o mesmo de Diego ou o do meu!

***

Paula estava de frente para a maleta marrom. O sobretudo estava em cima da cama de Clara, debaixo da maleta de viagem. A garota que antes pestanejava, tomada de um grande impulso, abriu a maleta.
– Isso, meu amor! É isso mesmo! – Disse Diego aos ouvidos da namorada viva.

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

Capítulo VI - Abnegação Indutiva

Fazia uma semana que Paula havia ganhado alta do hospital. A garota, ainda muito amargurada, foi até casa de seu falecido namorado buscar suas coisas e sua moto. Diego havia sido enterrado ao lado de seus familiares em um túmulo conjunto no cemitério São João Batista. Ela ainda não fora o visitar. Em verdade, Paula não se lembrava por completo do que acontecera na noite do acidente. Suas ultimas lembranças era dela e Diego saindo em alta velocidade do Parque do Mirante, depois disso, não se lembrava de absolutamente mais nada.
A jovem tinha uma sacola com os pertences de Diego, dentre eles estavam sua carteira, celular e dois molhos de chaves, um da serralheria e outro da casa.
Paula respira profundamente como de isso lhe desse mais forças, mas não era verdade. A sórdida realidade destruía o intimo de seu ser. A dor de perder o amor de sua vida era avassaladora. Paula se sentia atordoada, mantinha-se no anseio de um dia despertar de toda aquela tormenta, mas era inútil alimentar esse sentimento. Um momento de tamanho infortúnio que não poderia ser descrito de outro modo se não por uma única palavra: “dor”.
A moça pega o molho de chaves e abre um pequeno portal lateral ao portal que dava acesso direto ao interior da casa de Diego. Ela entrou no quarto do rapaz. Ao mesmo instante que se aproximava dos móveis do aposento, revivia seus últimos momentos com o namorado naquele local. Não era romântico nem amoroso. Não haviam bons sentimentos impregnados em seus flashs de lembranças. Era medo, aflição, angustia... desespero. Paula lembrou por instantes de Diego caído no chão, fitando o nada com olhar temeroso.
Paula chorou.
Chorou como uma mãe que perde o filho em meio a desgraça da guerra civil. Se sentia impotente perante tudo aquilo. Não sabia se acreditar nos devaneios de Diego era a melhor solução, mas algo lá no fundo lhe falava para dar um voto de confiança ao rapaz.

***

Diego já estava se acostumando com a realidade de desencarnado. Estava reaprendendo a viver, porém agora em uma outra condição física. Ele aprendera a não conversar com os pacientes do hospital. Isso era perigoso demais. Por diversas vezes visitou Paula em seu leito até o dia em que ela recebeu alta. Depois, Diego aprendeu a sair do hospital, mas para isso ele sempre contava com alguém vivo. Era como se ele agregasse suas energias às dele, e o encarnado lhe servia de uma espécie de veículo para se locomover no mundo dos vivos. Sebastião, o homem que o ajudara até o momento de seu ultimo encontro com Manuel desapareceu, deixando Diego em prantos no chão. Desde então o rapaz tem aprendido tudo sozinho no mundo dos mortos. Não existia nenhuma luz branca. Ninguém havia vindo em seu encalço explicar o porquê disso ou daquilo.
Diego aprendeu que podia ver Paula. Bastasse estar por perto dela e a dimensão do mundo dos vivos se fazia ao seu redor. Vez ou outra ele a tocava, aproximava seu rosto da cabeça dela a fim de sentir seu perfume, mas ele percebera que com sua proximidade Paula se entristecia ainda mais. Diego não vira mais Manuel desde aquele dia no hospital. Ele receava um novo encontro com o velho diabólico. O que será que ele quis dizer com: “Você será meu canal”? –, pensava ele.
Ele estava com Paula. Diego sabia que de certa forma podia interferir nas ações e sentimentos da garota. Eles estavam em sua casa e a fez seguir até seu quarto. Diego conversava com sua amada, relatava seus últimos momentos no aposento; sua inconformidade com os fatos; seu desespero de estar diante de Manuel. Diego se conteve quando percebeu que Paula estava muito transtornada já com o relato do namorado. Ela não podia ouvi-lo, mas sentia toda a angustia de Diego. Ele se aproximou dela e acariciou seu rosto com a mão, foi nesse instante que Paula chorou de forma intensa. Diego, percebendo sua influência, afastou-se da garota.
– Foi ele, aquele maldito! Ele é real Paula, eu preciso lhe provar isso.
Paula reagia como se estivesse o escutando. Ela estava sentada na cama dele, se recuperando de todo aquele sentimento de tristeza.
– Paula, a carteira! – Lembrou Diego. – Pegue a carteira, nela tem o telefone do médico da minha mãe, liga pra ele. Minha mãe vai poder ajudar, ela vai acreditar em você!
Paula, como num estalar de idéia, retira a carteira de Diego do saco plástico e começa a vasculhar tudo sem saber o que procurava. Ela encontrou um cartão com o nome Carlos Arruda, psiquiatra.

***

A garota havia ligado para o médico e havia conseguido marcar uma hora para conversar com Clara, mãe de Diego. Pelo que o doutor Arruda disse, a mãe do falecido ainda não sabia da morte do menino e, segundo o médico, não era bom que soubesse por enquanto.
Paula não estava acompanhada de Diego neste momento. Ela havia chegado até um grande pátio onde situavam um certo grupo de pacientes psiquiátricos. No entanto, Clara não estava ali. Paula perguntou a uma enfermeira a respeito da sogra, e logo a moça vestido de branco com cabelos loiros e curtos lhe respondeu: “ela está no quarto, ela nunca sai do quarto”.A jovem foi guiada pela enfermeira até a quarto de Clara. A porta estava aberta. Clara, sentada no chão de frente para a parede, não deu importância para Paula.
– Dona Clara, sou eu, a Paula.
– Eu sei quem é você.
– Que bom que a senho...
– E sei o que veio fazer aqui – interrompeu Clara –, você veio falar do meu menino, mas não se preocupe, o velho já veio me falar disso. – Paula gelou a espinha ao ouvir o que a sogra dissera.
– Dona Clara, o que ele disse a senhora? – Clara começou a rir em tom sarcástico.
– Que ele está morto! Coitado daquele traidor. Me colocou aqui, ele merecia morrer! Agora ele vai acreditar em mim – Clara olhou para Paula pela primeira vez –, agora ele verá o que é sofrer!

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Capítulo V - O Despertar da Agonia

Enjôo. Dores fortes tomaram conta do corpo de Paula. Suas forças eram tão ínfimas que a garota não conseguia esboçar sua dor a não ser por um singelo gemido. Carmem se levantou e foi assistir a filha.
– Filha, é a mamãe! Você está me escutando? Enfermeira, enfermeira! – Gritou a mãe saindo pelo corredor a fora.
Paula balançava a cabeça de um lado para o outro na menção de afastar toda aquela sensação ruim. Carmem voltou acompanhada por um enfermeiro. Ele fez todos os procedimentos de forma calma e controlada.
– Mãe – disse o enfermeiro para dona Carmem –, não se preocupe, essa é uma reação normal. Eu vou contatar o médico agora mesmo.
– Mamãe – chamou Paula –, o que está acontecendo? Isso aqui é um hospital? Cadê o papai? E o Diego?
– Minha filha, calma, tudo vai ser explicado, mas tente não se exaltar.
Paula deu ouvido à mãe e fechou os olhos.

***

Dona Carmem estava do lado de fora do quarto ouvindo as recomendações do Doutor Alexandre.
– Paula saiu de um coma de cinco dias, dona Carmem, ela provavelmente não se lembrara de nada do acidente.
– Não, eu me lembro.
Paula estava de pé no batente da porta. Ela olhava para o chão, com os braços abertos, como se estivesse perdendo o equilíbrio. Paula caiu inconsciente no chão.

***

Toda história tem dois lados. Ninguém nesse mundo toma qualquer atitude sem se achar no direito de tal ato. Mesmo que esse ato seja tomado por um morto.
Diego, de frente para seu maior medo, se prendeu em um pensamento: eu não tenho mais nada a perder.
– Você... – Diego aproximou ainda mais seu rosto do de seu inimigo – Você me matou, desgraçado! – o homem riu, exibindo seus dentes apodrecidos. Seu hálito era fétido e gelado.
– Agora... você será meu canal! – o homem passou de leve a ponta de seu dedo indicador no rosto de Diego.
– Do que você está falando, seu demônio? Não vou ser nada seu.
– Manuel, deixe-o –, ordenou o enfermeiro que auxiliou Diego.
– Não se preocupe, moleque, eu volto logo! É só o tempo dessezinho aí ser chamado.
Manuel desapareceu mais uma vez em uma cortina de fumaça. Diego suspirou forte, aliviado. O enfermeiro foi auxiliar o rapaz a se levantar, mas o rapaz recusou a ajuda permanecendo no chão. Diego iniciou um choro engasgado.
– Que merda é essa toda que está acontecendo? Quem é esse demônio? Quem é você?
– Diego, tenha um pouco de paciên...
– Paula! – Berrou Diego meio ao pranto.

***

Paula despertou mais uma vez no leito do hospital. Ela viu que seu pai estava ajoelhado na beirada da cama, rezando. Sua concentração era tamanha que ele não percebeu o despertar da filha.
– Papai. – Paula estava com a garganta seca, engolindo a saliva com dificuldade.
– Filha! Graças a Deus, obrigado meu Senhor!
Seu Nestor abraçou sua filha e afagou sua cabeça.
– Papai, onde está o Diego? Eu escutei a voz dele. Ele gritar meu nome.
– Filha, eu preciso te contar uma coisa.
Paula olhou dentro olhos de seu pai, afim de que ele contasse a história que mais a abalaria por toda sua vida.

segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Capítulo IV - Corredores do Caos

Diego despertara. Ele se viu deitado em um leito de hospital. Ele não conseguia se lembrar de nada do que ocorrera, estava confuso ainda. O rapaz se levantou e caminhou pelos corredores. Era noite já e, estranhamente tudo estava vazio, parecia mais um hospital abandonado. Ele não fazia idéia de quanto tempo estava ali. Não avistou nenhum posto de enfermagem para tomar informação. Ele passou pela porta de um quarto e um vento gélido lhe gelou a espinha. “Entre” –, ele escutou sussurrado em seu ouvido. Diego olhou para trás, uma enfermeira chegou de supetão e abre a porta do lado de dentro saindo do aposento.
– Eu já volto –, disse a enfermeira para alguém no quarto. Ela deixou a porta aberta.
Diego voltou alguns passos e olhou dentro do quarto, tudo que conseguiu ver eram os pés do acamado, mas uma tatuagem peculiar no pé do paciente lhe chamou a atenção, era um beija-flor, a mesma tatuagem de Paula. Levado pelo susto, Diego entrou no quarto de uma só vez e viu sua amada deitada na cama coberta de escoriações e hematomas. 
– Paula! – Exclamou ele.
A mãe de sua namorada estava no quarto em prantos. O ódio dela era tamanho que ela o ignorou por completo. Ele se aproximou da namorada, não conteve as lágrimas. Como uma espécie de ligação intima, a mãe de Paula cai em prantos de maneira copiosa. A mãe afaga os cabelos da menina, alisando, impedindo a aproximação de Diego.
– Dona Carmem, o que está acontecendo?
Carmem ignora o rapaz intensificando o pranto.
– Ei, deixe as suas sozinhas –, disse uma voz atrás dele.
Diego olhou para ver quem era. Um homem vestido todo de branco, aparentemente um médico ou um enfermeiro, lhe encarava. Seu olhar não era reprovador, porém seu semblante era sério.

***

Fazia um tempo que aquele rapaz estava tratando de Diego. O jovem, curioso com os fatos perguntava insistentemente ao homem o que estava acontecendo, no entanto o homem de branco não o respondia. 
– Você é enfermeiro, certo? Pois se fosse médico não estaria trocando meus curativos, não é mesmo? – Silêncio. – Onde está o médico? Quando ele irá vir me contar o que aconteceu comigo? Preciso saber quando terei alta, tenho compromissos a cumprir.
– Diego, escute com atenção – disse o enfermeiro –, você não irá receber nenhum médico e muito menos terá como honrar seus compromissos.
– Como assim?
– Diego, você está morto.
– O quê?
– É isso mesmo, você está morto. – Diego se mostrou perplexo. – Houve um acidente, você, Paula e outro casal estava envolvido. Você sofreu traumatismo craniano e morreu ao dar entrada no hospital.
– Não, você está enganado.
Diego se levantou da cama e saiu do quarto em fulga. O homem de branco não foi atrás dele.
O recém desencarnado, inspirado de angustia, andou pelos corredores do hospital, porém Diego parecia estar em uma dimensão paralela. O local estava aparentemente devastado, com luzes fracas, hora acendia, hora não, às vezes simplesmente tremulavam. As paredes estavam com a pintura gasta, algumas partes sem reboco. A cor verde desbotava dava um ar caótico ao local, mas não tanto quanto as pessoas que habitavam esse hospital. Pacientes em leitos, sofrendo, gritando, clamando por cuidados, alguns pedindo perdão. Certa quantidade deles estavam amarrados na cama, alguns até mesmo amordaçados. Uma paciente em especial chamou a atenção de Diego. Uma garotinha com cerca de 6 anos estava em um quarto deitada na cama, sem a perna direita. A menina tinha seu corpo quase todo queimado. Diego se horrorizou com a visão. A garota respirava com dificuldade, o lençol de sua cama estava coberto de sangue.
Diego olhou para frente querendo evitar assistir mais do sofrimento daquela pequena garota. Ele estava lá, sorrindo no final do corredor. O rapaz olhando para seu algoz, disparou a correr no sentido oposto de onde ele se encontrara, quando ele se virou, trombou em cheio com o vilão, estatelando no chão. O homem aproximou o rosto velho do rosto aterrorizado de Diego.
– Agora estamos no mesmo mundo, moleque!

sábado, 15 de janeiro de 2011

Capítulo III - A Benção da Perdição

Nada nesse mundo é mais assustador do que a solidão. Diego se encontrava nesse estado. Não importa o que dissesse a Paula, ele jamais seria compreendido. O jovem tentou explicar a sua namorada o que acontecera, no entanto o olhar de desapontamento era evidente em sua face, acertando-o como se fosse um soco no estômago. Paula acreditava que Diego estaria surtando do mesmo modo que sua mãe. Estavam dentro do carro em um local chamado Parque do Mirante, o ponto mais alto de Uberaba. Era um grande campo verdejante. A noite chuvosa climatizava aquele momento angustiante.
– Você não acredita em uma palavra do que eu disse, não é?
– Não estou dizendo que você mentiu, Diego, é que... vamos ser realistas, não passamos pela mesma coisa com sua mãe?
– Sim, mas era diferente, Paula, por que... – Diego parou de falar e ficou olhando para fora do carro.
– Diego...? – Ele não respondeu. O rapaz estava atônito. – Você está vendo ele, não está? – Ele meneou a cabeça positivamente.
O fantasma estava parado na frente do carro, olhando para Diego friamente, como se estivesse o estudando há um bom tempo já.
– Vamos sair rápido daqui. – O rapaz deu partida no carro acionou a marcha ré.
– Diego, calma. – Paula segurou a mão dele. – Tente se concentrar, ele vai desaparecer. Controle-se, isso é coisa da sua cabeça.
Sem muitas opções, Diego resolveu ouvir sua namorada. Fechou os olhos, concentrou-se na orientação de Paula, respirou profundamente e inundou seu pensamento com mantras instantâneos do tipo “Isso é fruto de sua imaginação”, ou “ele vai desaparecer”. Diego abriu os olhos.
– Não vai pedir benção para o biza? – A assombração estava com o rosto colado ao dele.
Diego gritou abafado e acelerou o carro, saído em disparada. Paula se segurou o mais firme que pode, pois o caminho era cheio de rochas e terra. O fantasma riu e desapareceu em uma cortina de fumaça, o que deixou Diego mais apavorado ainda. Ele entrou na pista em alta velocidade. Paula olhou para o velocímetro que passava dos 130 Km/h.
– Diego, calma, vai devagar –, pediu ela.
– Não vai pedir benção para o biza?
– O quê? – Perguntou Paula sem entender.
– Foi isso que ele me perguntou, se eu não iria pedir benção para ele. – Paula olha para o velocímetro mais uma vez: 140 Km/h.
– Diego, reduz, por favor.
O rapaz não disse nada, porém atendeu o pedido da namorada. Foi desacelerando o carro até chegar a 80 Km/h. Estavam agora na avenida Leopoldina de Oliveira, em frente ao Mercado Municipal da cidade. Diego parou em um sinaleiro vermelho e, estranhamente, começou a rir. Paula, instantaneamente embarcou na onda do namorado começando a rir também, aliviada pelo fim do susto que passara. As risadas do garoto cessaram no momento que viu bem a frente, cerca de cinqüenta metros, ele. O espírito estava parado no meio da avenida de frente para o carro. Diego acelerou o automóvel disparando contra o espírito, que não moveu um centímetro se quer.
– Morre, filha da puta! – Exclamou o rapaz.
– Diego! – Gritou Paula.
Ele passou pelo fantasma como se fosse uma cortina de poeira.
– Não, é sua vez de morrer! – Disse a assombração, que reapareceu na frente dele entre seu corpo e o vidro dianteiro do carro, investindo uma mordida no pescoço do rapaz do mesmo modo que o fez em seu pesadelo.
Desesperado, Diego tenta controlar o carro e tirar a criatura de seu pescoço, mas parecia ser em vão.
– Cuidado! – Gritou Paula.
Um carro que descia em alta velocidade em uma das ruas que cortam a avenida Leopoldina de Oliveira, bateu em cheio no carro de Diego no lado do motorista.
Por fração de segundos, Paula viu o rosto do seu namorado. Ele estava com os olhos vermelhos, banhados de lágrimas. Não havia tempo para palavras serem proferidas, mas ela sabia que aquilo era um olhar de puro desespero emendado com um pedido de desculpas. Essa foi a ultima cena que Paula veria naquela noite.

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Capítulo II - Dentes Putrefados

Paula era uma garota de vinte e cinco anos. Seus longos cabelos lisos e negros, e sua pele alva provocavam um realce perfeito. Era de uma estatura pequena, media cerca de ume metro e sessenta centímetros. Ela não era apenas namorada de Diego, mas sim sua única amiga.
A jovem chegou na casa do seu namorado através de sua moto Biz. Mesmo sendo uma motocicleta de baixa potência, ela levou menos de dez minutos até seu destino. Como costumeiro, ela buzinou três vezes para Diego saber que havia chegado. Rapidamente ele abriu a portão e Paula entrou com sua moto. Ela retirou o capacete rosa e o olhou assustada.
– O que aconteceu? – Perguntou aflita.
– Eu não sei se é paranóia minha, mas você precisa ver algo.
Diego a puxou para dentro de casa, passando pela sala e chegando no quarto de sua mãe. O sobretudo estava estirado na cama.
– Veja.
– Ver o que, Diego?
– Esse sobretudo.
– O que tem ele?
– Você não lembra? Dos sonhos que eu te contei, dos tormentos de minha mãe?
– Sim, um homem que usava um sobretudo como esse. Mas o que você está insinuando? Que esse sobretudo seria do fantasma?
– É... mais ou menos isso.
– Ah Diego, por favor, você é mais esperto do que isso! – Zombou Paula.
– Minha mãe jamais usaria uma roupa dessa. E além do mais, eu nunca vi isso no guarda-roupa dela. Paula, por muitas vezes eu abri esse guarda-roupa para guardar as roupas dela e esse troço nunca esteve lá.
– Bem, ele poderia estar guardado em outro lugar e sua mãe o guardou ali recentemente. Essa roupa é velha, Diego – Paula apanhou o casaco –, pode ser do seu avô ou até mesmo do teu pai. Na pior das hipóteses, sua mãe poderia estar saindo com alguém e não quis te contar. Por que não?
– Não sei Paula. Você pode estar certa, na verdade provavelmente está. Bem, prefiro que esteja! Mas de todo modo não deixa de ser assustador.
– Deixa de besteira, amor! – Paula se aproximou dele –, assustador é você que até agora não me deu um beijinho se quer.

***

2:35 da manhã. Diego acorda sobressaltado por mais um dos pesadelos, porém esse foi diferente. Ele sentiu que algo o impedia de despertar. Diego tinha ciência de que era um sonho, no entanto era impossível se desprender dele. Tentava a todo custo, mas seu corpo não obedecia. Em seu sonho, Diego estava caído ao chão, sem forças por tanto correr dele, ele se aproximou de Diego e disse: “Você é mais um deles, pagará também”. A assombração abriu a boca e mordeu o pescoço de Diego dilacerando a carne como um leão feroz.
Diego sentou-se na beirada da cama. Ele olhou para Paula, ela dormia profundamente. O jovem foi até o banheiro para molhar a cabeça como de costume. Olhou no espelho e se assustou quando viu um hematoma na região em que o ele havia mordido no sonho. O rapaz correu de volta para o quarto, gritando pelo nome de Paula no caminho, que acordou assustada com os gritos do namorado.
– O que, o que foi? – Falou sentando na cama.
– Olha isso. – Disse ele mostrando o hematoma a ela.
– O que é isso? Está parecendo mais um machucado. Acende a luz, deixa eu ver direito.
Diego foi em direção ao interruptor e acendeu a luz, quando se virou, o rapaz se deparou com seu pior pesadelo, era ele! Diego emitiu um grito abafado e caiu no chão. A assombração não desapareceu.
– O que aconteceu Diego? – Era evidente que Paula não via ele.
– É Diego, diga a ela o que vê. – O pobre rapaz engatinhava de costas, mas a parede o impediu que continuasse.
– O que quer de mim, demônio? – Paula saiu da cama assustada e foi acudir o namorado. – Não se aproxima Paula, fica aí –, berrou ele. O fantasma riu medonhamente, expondo seus dentes putrefados.
Diego, pelo amor de Deus, fala comigo! – Implorava Paula. O obsessor olhou para frente e logo seu sorriso monstruoso desapareceu de seu rosto.
– Sua sorte é que eles estão vindo, mas eu voltarei para te buscar, moleque!
O fantasma correu em direção Diego, que tentou bloquear o encontrão com as mãos, mas o espírito desapareceu quando se chocou com o rapaz.
Diego abriu os olhos, apalpou seu corpo como se estivesse conferindo se tudo estava lá. Paula ignorou a ordem do namorado e foi acudi-lo.
– Pelo amor de Deus, me diga o que está acontecendo, Diego. – Ela o ajudava a levantar.
– Calma, eu te conto, mas vamos sair dessa casa.
– Mas Diego...
– Agora Paula! – Berrou ele.
Assustada, Paula obedece Diego sem retrucar. Ela nunca o havia visto daquele modo, jamais assistira uma cena tão desesperadora em toda sua vida. Ele esperou a namorada vestir sua roupa, pegou a chave do carro, um casaco e fechou a porta da casa. Diego estava apavorado, tudo que queria era sair dali.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Capítulo I - Destroços da Sanidade

Diego era um jovem de vinte e seis anos. Ele tinha a musculatura de seu corpo definida devido ao seu trabalho. Dono de uma serralheria, o rapaz não se prendia apenas a serviços do escritório, mas também gostava do serviço braçal. Seus cabelos castanhos claros curtíssimos, raspado na maquia número 2 e sua barba por fazer, davam um aspécto mais velho do que ele realmente era. Diego que nunca conhecera o pai, era filho único de Clara. Há cerca de oito meses teve que fatidicamente interná-la no Sanatório Espírita de Uberaba.
A noite estava quente na cidade mineira. Diego estava de frente para a TV, olhava para o televisor, porém ele não assistia nada. Seu fitar preso ao nada deixava claro sua alienação ao seu envolto. Com as lembranças de seus últimos momentos com sua mãe em casa, Diego sente a amargura do sentimento de impotência perante a doença dela. Ele tentava de todas as formas encontrar algo que pudesse justificar esse impasse mental, algo que pudesse curá-la, de certo modo... miraculosamente.
Banhado pelo sentimento de saudade, Diego vai até o quarto de sua mãe pela primeira vez desde "aquele dia". O quarto estava em total desordem. Roupas jogadas pelo chão, uma pequena mesa onde ficava a TV estava caída, logo a frente estava o televisor preso pelo fio elétrico que não saiu da tomada. Um porta-retrato de Clara e Diego abraçados estava caído também. Seu vidro estava quebrado e a foto machucada pelas pisadas que levara. Ele sentou na beirada da cama segurando aquele retrato e sentiu um pesar muito forte. Uma tristeza sem tamanho o acometeu. A vontade de chorar veio a tona, mas ele se conteve. Diego prometera que não choraria mais por isso. Sabia que sua mãe estava doente, era tudo questão de tempo até ela se recuperar.
–É, já está na hora d’eu arrumar este quarto – disse ao vento.
Ele começou a recolher as roupas caídas no chão, ergueu a mesinha e colocou o pequeno televisor de 14’’ em cima dela. À medida que ia arrumando o aposento, lembranças de como o local ficou naquele estado lhe viam à mente. Uma briga entre Diego e Clara. Eles se ofenderam, ela não queria ser internada, dizia que via e escutava ele, que ele prometeu vingança.
Ele... segundo Clara, era o responsável pela desgraça que sempre abateu sua família. Que esse ele foi um inimigo do passado e só terá descanso quando destruir todosos mebros dessa  família. Um homem desconhecido usando chapéu e roupão preto, lembrando um acoitador em um filme de terror de segunda. Diego nunca viu, sentiu ou ouviu algo, apenas sonhou com ele algumas vezes, mas acreditava que isso era reflexo da paranóia de sua mãe. Sendo um rapaz completamente cético, Diego não acreditava em espíritos, maldições, fantasmas ou qualquer outra coisa que seria tachada de... sobrenatural. Não chegava a ser ateu, acreditava em algo superior. O Deus que Diego idealizava era diferente de qualquer padrão religioso existente. Era uma crença peculiar, desprendida de dogmas e referências literárias, diferente de sua mãe que era católica não praticante.
Clara apresenta um quadro clínico de esquizofrenia, paranóia e também síndrome do auto-extermínio. Desde que Diego possa se lembrar, sua mãe era dada como louca pela vizinhança. A chamaram de macumbeira, bruxa, satanista; adjetivos ofensivos à qualquer um. Clara nunca deu muito ouvidos a esses títulos, porém Diego sempre foi zombado e apontado em seu grupo de colegas como “O Filho da Louca”, “O Sem Pai”, “Filho do Capeta” dentre vários outros apelidos. Ele não tinha primos, tios nem avós. O que sabia era que sua avó morreu no parto de sua mãe e seu avô morreu de cirrose antes mesmo dele nascer.
O rapaz abriu o guarda-roupa da mãe afim de guardar as roupas que arrumara e viu um casaco que lhe chamou a atenção: um sobretudo preto. No mesmo momento que ele viu o casaco, uma ligação da roupa ao tal espírito que já sonhara algumas vezes lhe fez gelar a espinha. Ele coloca as roupas cuidadosamente no chão sem tirar os olhos do grande casaco e, em seguida, o retira do guarda-roupa. Definitivamente era o mesmo sobretudo. Ele procurou nos bolsos qualquer coisa que o levasse a entender o surgimento da roupa, mas foi em vão. Diego retira o celular do bolso, preciona três botões e leva o aparelho ao ouvido.
– Oi... – respondeu ele secamente a saudação da pessoa do outro lado da linha –, você pode vir aqui em casa agora? – Um breve silêncio. – Ok.
Diego desligou o telefone e o guarda no bolso. Ele não conseguia parar de olhar para o sobretudo. O rapaz estava aterrorizado.

domingo, 9 de janeiro de 2011

Prelúdio

Diego caminhava pelo vale de cascalho. A geografia descampada do local deixava o vento cortante se chocar contra o corpo do jovem que tremia não apenas pelo frio, mas também pelo medo avassalador do desconhecido. A única luminosidade era da lua cheia que banhava aquele momento desgraçado.
– Mãe –, chamava Diego insistentemente.
Ele fez uma curva e avistou ao longe uma banheira. O rapaz se aproximou do grande objeto de louça branca, ele estava cheio de uma água escura de aparência suja. No fundo ele via que ali pousava um corpo inerte. Diego aproximou o rosto do indigente na tentativa de reconhecê-lo. O corpo abriu os olhos e saiu da água puxando-o para dentro da banheira. Já dentro da água completamente aterrorizado, o jovem fita seu algoz e se espanta ao ver que era sua mãe. Seu rosto era disforme, pútrido. Seus olhos eram duas orbes brancas translúcidas e seus dentes eram podres e pontiagudos. Os longos cabelos da mãe engalfinhavam no rosto do filho, sua feição era de prazer com o desespero de sua criança. A mãe-demônio segurou a cabeça do rapaz pelo cabelo e mordeu seu pescoço. Ele berra, mas a água abafa o som, permitindo apenas bolhas de ar saírem de sua boca.
Diego abre os olhos em junção a um pequeno salto, expondo seu pavor por aquele terrível pesadelo.
– Mais uma vez...
Sentou-se na beirada da cama esfregando o rosto com as mãos, aflito pelo terrível sonho. Ele se levantou e foi até o banheiro, colocando a cabeça de baixo da torneira e deixando a água cair. Estava com os olhos cerrados e, a medida em que a água descia pela sua cabeça, Diego tinha flashs do pesadelo que tivera. Ele fechou a torneira e olhou para seu relógio de pulso: 02:35 da manhã. Ainda faltava muito para amanhecer. O rapaz se olhou no espelho e encarou-se.
– Que merda está acontecendo comigo? – Se perguntou retoricamente.

Argumento

O que é o Projeto 53:
Sobre a crônica: 53 é uma história (ou diria estória?) de terror repleta de misterios e sustos. Diego, um jovem perturbado por um espírito obsessor (espírito de más intenções), acredita que sua família seja amaldiçoada e, para se livrar desse carma, Diego irá atrás do verdadeiro passado de seus antecessores, no entanto forças além da natureza "comum" irão tentar impedi-lo a todo custo.
Sobre o projeto aberto 53: projeto aberto é a definição de um livro, conto, fábula e derivados, publicado sem fins lucrativos. Escolhi a Internet pela fácil acessibilidade à todos. Todas segundas-feiras, irei postar aqui um capítulo da história. Pode ocorrer d’eu postar algo no meio da semana, então fiquem de olho!
Boa leitura a todos!
Dooll Silverd