Paula estava na casa de sua tia Laís. Ela contara sobre a experiência que tivera com o tal espírito Sebastião.
– Filha, isso que aconteceu com você pode ter sido apenas um sonho mesmo. Não necessariamente algo espiritual. Isso pode ser sua própria mente tentando falar pra você deixar isso pra lá.
– Deixar isso pra lá? – Questionava Diego, participando daquela reunião. Sua presença deixava Paula aflita. Ela sabia, mas parecia não ligar muito. – Aquele capeta me matou e o outro lá todo bonzinho fala pra rezar pra ele? E eu? Eu quem sou a vítima aqui!
– É tia, talvez a senhora tenha razão mesmo...
– Ah, isso não vai ser tão simples assim.
Diego colocou a mão sobre a cabeça de Laís, que sentiu um imenso mal estar e levou a mão no peito e depois na garganta.
– Tia, tudo bem? O que a Senhora está sentindo? – Perguntou Paula preocupada, tentando ajudar a tia.
– Ai minha filha, uma sensação ruim. É como se alguém estivesse querendo se comunicar.
Diego estimulou o ectoplasma¹ sair de Laís. Ela sabia como fazer aquilo. Havia observado várias seções espíritas.
– Hora de explorar novas atividades!
Diego começou a conduzir o aparelho de Laís, que foi falando exatamente o que o rapaz queria.
– Paula... Paula.
–Sim tia, fica tranqüila, eu vou ligar pro resga...
–Paula sou eu, Diego. – A médium falava com dificuldade. Paula sentiu-se sem chão. Seu corpo inteiro gelou. Ela ficou atônita e surpreendida. – Eu sei que está... sei que está assustada, mas você precisa, você tem que encontrar.
– Diego, meu Deus! – Ela chorava – Eu sinto tanto a sua falta... Eu estou com tanto medo.
– Ache o 53 Paula, é a única esperança... – Era como se faltasse o ar à Laís ao falar –, É a única esperança para nosso filho, Paula.
– Mas que droga é essa de 53?
– Ache ele, Paula, encontre o 53.
Laís estremeceu o corpo e sua respiração que antes era ofegante, começou a voltar ao normal. Ela abriu os olhos e olhou para a sobrinha.
– Ai tia... – Paula segurou a mão de Laís. – Era o Diego. Ele me mandou procurar o 53 tia. Mas como eu faço isso sem ao menos saber o que é?
Diego olhava a cena da tia e da namorada.
– Gasta muita energia não é, muleque!
– Coronel Manuel Joaquim! – Diego disse sem olhar para o lado de onde veio a voz. O homem de sobretudo riu medonhamente.
– Fez bem, garoto! Ou ela encontra o 53, ou ela fará parte de nós!
– Seu desgraçado o que você quer? Que porra é essa de 53?
Ele olhou para o Coronel com um olhar que não expressava nada mais além de fúria. O Coronel riu mais uma vez, ele passou ou Paula e alisou seu rosto com sua mão suja e suas unhas grandes e podres. A vontade de Diego era de atracar com ele ali mesmo, mas ñ teve coragem. A presença do obcessor era tamanha que congelava os movimentos do garoto. Ele olhou para Daniel, repetiu a risada diabólica e saiu cruzando a parede da sala que encontravam-se.
– Tia, posso te perguntar uma coisa? – Disse Paula abraçada com Laís, que a confortava.
– Sim filha, o que é?
– O que sentiu quando Diego estava incorporado em você?
– Filha... Tristeza. Um imenso abismo no peito. Sinto muito, tudo que senti foi apenas angustia.
Paula fungou mais uma vez. Ela sabia o que tinha que fazer, apenas não tinha idéia de como.
***X***
1 - Ectoplasma: Substância mediúnica produzida pelos médiuns a qual serve de “combustível” para um espírito se comunicar de algum modo.