segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

Capítulo VIII - Lástimas (Parte 1)

Paula fecha o diário de Sebastião. Com um olhar atônito, ela finta o nada, tentando assimilar tudo que foi lido. Foram quase duas horas intensas de uma leitura compulsiva. Sem conseguir se prender ao tangível, a moça anda pelo cômodo de um lado para o outro.
– Meu Deus ...– sussurrava ela insistentemente –, ele  conseguiu, ele destruiu todos eles... Todos!
Do outro lado do quarto Diego estava encostado no batente da porta, ainda atônito com a revelação. Coronel Manuel Joaquim realmente fora um demônio encarnado, mas o que mais impressionava Diego não era sua maldade inescrupulosa, mas sim o fato do Coronel ser sangue de seu sangue. Manuel Joaquim fora bisavô de Diego.

***

Era tarde da noite quando Paula acordou em meio sonhos ruins. Ela não sonhara com Diego, mas pela primeira vez ela sonhou com ele, o Coronel. Assustada e conhecedora da sucessão dos fatos, Paula decide por um basta nisso antes mesmo de começar. Não deixaria que aquele monstro a levasse como fez com seu namorado e toda sua família.

***

No entardecer do dia seguinte, Paula decidiu procurar sua tia Laís, uma médium psicofônica¹. A jovem nunca acreditou muito em espíritos, fantasmas e coisas do gênero, mas mediante aos últimos fatos, não haveria muito mais para “onde correr”.
Três batidas na porta.
– Tia Laís, sou eu, Paula.
– Oi filha! Vamos entrar! – convidou a senhora abrindo o portão para a garota.
Paula passou pela varanda da casa. Um cachorro da raça Pastor-Alemão rosnou para ela.
– Turon, deixe de ser grosso com as visitas. – Laís Reprimiu o cão, que abaixou as orelhas e choramingou baixinho. Elas seguiram até a sala e acomodaram-se no sofá. – Que visita inesperada filha, mas fico feliz de estar aqui.
– Faz muito tempo que não nos vemos, não é tia Laís.
– Ah, faz sim. Se não me engano foi no aniversário de sua mãe, um ano tem isso quase?
– Por aí tia – Paula passou a mão no cabelo trazendo para trás da orelha.
– Está agoniada filha, o que houve?
– Tia, a senhora soube o que aconteceu meu namorado, Diego?
– Sim filha, eu soube pela sua mãe. Eu até fui visitá-la no hospital quando estava em coma, não gosto nem de lembrar. Minhas condolências, Paula, deve está sendo muito difícil pra você. – A velha senhora demonstrou pena pela sobrinha.
– Obrigada tia. A senhora já deve imaginar o por quê eu estou aqui, não é?
– Não –, Laís meneou a cabeça negativamente.
– Eu gostaria de saber de existe um meio de comunicar com ele.
– Olha filha, é muito cedo para isso. Principalmente mediante as condições que ele desencarnou.
– Mas eu tenho sentido a presença dele, tia. – Diego, que até agora apenas acompanhava Paula, assustou com a declaração da namorada. Ele a fitou espantado. – Eu sinto ele se aproximar de mim, me tocar, sinto o cheiro dele. – Paula engolia o choro, porém uma lágrima escapou pelo seu olho esquerdo.
– Criança... isso pode ser saudade.
– Não, não é, eu estou aqui! – Exclamou o rapaz.
– E como isso é possível? Eu ter tanta certeza dele estar comigo?
– Sabe, analisando bem, existe sim uma possibilidade dele estar lhe acompanhando, mesmo cedo assim. Na verdade... duas possibilidades.
– E quais seriam elas, tia?
– Se Diego desencarnou e recusou a aceitar ajuda dos irmãos superiores que vieram acolhe-lo, ou...
– Ou...?
– Ou se Diego estiver se empenhando no mal. Se ele estiver em busca de vingança por alguém ainda encarnado.
– Tia, eu não sei se é vingança por alguém especificamente encarnado, mas existe uma história que assola a família dele. Envolve muita coisa.
– Então conte-me, minha filha. Quem sabe eu posso lhe ajudar.

 
***X***

1 - Médium psicofônico: Médium que incorpora espíritos desencarnados e também em desdobramento.

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