terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

Capítulo VII - Ponte dos Desejos Perdidos

Ele poderia ser daquele modo para todo sempre. Paula estaria submissa as suas vontades. Diego nunca sentiu tamanha influência sob qualquer outro ou em qualquer circunstância em todo tempo que teve de vida. Seu único problema era quando não estivesse ao seu lado. E se ela encontrasse outra pessoa? Se Paula quisesse seguir em frente e esquecer de Diego? Não! Ele não poderia permitir isso. Paula era sua única chance de saber o porquê daquilo tudo. Quem era esse tal Manuel? Por que ele teria feito isso? Eu tenho medo é dos vivos –, sempre dizia ele, no entanto Diego foi assassinado por um fantasma. Quantas pessoas provavelmente morrem nessas circunstâncias? Aquele infeliz havia provocado aquele acidente? Resposta que ninguém tinha.
O jovem caminhou pelos corredores do hospital. Como ele odiava aquele lugar. Tudo ali era a mais pura e desesperadora expressão do caos morte. Pessoas – ou almas propriamente dizendo – sofriam em abundância. O local de arquitetura devastada, possuía um ambiente mais horripilante do que qualquer cena jamais vista pelo rapaz. Houve vezes que Diego teve de correr de pacientes que acreditavam que ele fosse um médico ruim. O jovem parou de se aventurar em quartos e em corredores muito escuros por esta razão.
Seres de formas medonhas e bizarras.
Eram monstros de um filme de terror que se materializaram neste local.
Hospital da Morte, era como Diego o chamava. Existia um lugar, um local que Diego sentia um medo crescente toda vez que passava por lá, o corredor dos gritos. Berros de dor de pessoas: mulheres, homens crianças e qualquer outra forma de ser gritava ali. Toda vez que Diego quisesse sair do Hospital da Morte, ele tinha que passar pelo corredor dos gritos. O rapaz fechava os olhos e corria em direção a porta de saída. Entrar e sair do Hospital da Morte era uma tarefa tenebrosa... mórbida. Teria que compensar muito para tal façanha.
Há algum tempo o jovem desencarnado procurava por Sebastião, o homem que o entregou a realidade de morto. Diego queria saber mais sobre sua vida póstuma, do que mais poderia tirar proveito. Algumas das coisas que ouviu enquanto vivo eram realmente verdadeiras, outras não. Mas o que mais lhe agradava era o fato de poder estar onde quisesse quando quisesse. Bastasse ter um médium para doar fluídos e PAM!, Diego o acompanhava e ia ao destino desejado. Ele sempre desejou conhecer a Ponte de São Francisco, em New Orleans. Ele se encantava quanto sua construção; sua ambientação. Agora não era o momento para isso, além do mais, Diego tinha coisas mais importantes para resolver agora: quem era ele.

***

Paula, vendo que Clara não podia a ajudar muito deixava o sanatório com um pensamento de derrota; fracasso, mas suas intenções foram salvas quando a enfermeira que lhe indicou o quarto de Clara correu até ela e pediu para que ela esperasse, pois a mãe de seu namorado estava lhe chamando de volta.

***

– Diego não foi de todo mal – falava a mãe –, porém ele sempre me hostilizou por eu ser médium. Eu vejo, escuto, converso com gente morta. Eu não estou louca, este definitivamente não é meu lugar. Por favor, Paula, você me conhece, eu não sou louca! Me tira daqui!– Clara não parecia a mesma pessoa com que Paula falou nos últimos quinze minutos atrás. Ela estava mais calma, conciente da realidade.
– Dona Clara, eu entendo suas concepções sobre mediunidade, sou espírita também e acredito na senhora, mas eu não posso ajudá-la. Isso depende do doutor Arruda, se eu pudesse eu ajudaria, acredite.
– Se eu te ajudar, você promete fazer de tudo para me tirar daqui? – Paula, ficou estática observando a mulher.
–  Sim, eu prometo fazer o possível para ajudar a senhora.
Clara sorriu.
Vá até meu quarto, em minha casa. Dentro de meu guarda-roupa procure por um sobretudo. Olhe em um dos seus bolsos e encontrará uma chave. Escondido de baixo do guarda-roupa tem uma mala velha de viagem de couro marrom. Ela está trancada. Abra a mala com essa chave. Lá você encontrará as respostas que procura.
– Certo! Dona Clara, muito obrigada!
– Obrigada? - Clara já possuía o mesmo olhar insano de antes –. Você não está entendendo filha, quando você abrir essa mala, sua vida irá mudar. Eles lhe perseguiram até o dia de sua morte. Não haverá volta. Seu destino será o mesmo de Diego ou o do meu!

***

Paula estava de frente para a maleta marrom. O sobretudo estava em cima da cama de Clara, debaixo da maleta de viagem. A garota que antes pestanejava, tomada de um grande impulso, abriu a maleta.
– Isso, meu amor! É isso mesmo! – Disse Diego aos ouvidos da namorada viva.

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