sábado, 15 de janeiro de 2011

Capítulo III - A Benção da Perdição

Nada nesse mundo é mais assustador do que a solidão. Diego se encontrava nesse estado. Não importa o que dissesse a Paula, ele jamais seria compreendido. O jovem tentou explicar a sua namorada o que acontecera, no entanto o olhar de desapontamento era evidente em sua face, acertando-o como se fosse um soco no estômago. Paula acreditava que Diego estaria surtando do mesmo modo que sua mãe. Estavam dentro do carro em um local chamado Parque do Mirante, o ponto mais alto de Uberaba. Era um grande campo verdejante. A noite chuvosa climatizava aquele momento angustiante.
– Você não acredita em uma palavra do que eu disse, não é?
– Não estou dizendo que você mentiu, Diego, é que... vamos ser realistas, não passamos pela mesma coisa com sua mãe?
– Sim, mas era diferente, Paula, por que... – Diego parou de falar e ficou olhando para fora do carro.
– Diego...? – Ele não respondeu. O rapaz estava atônito. – Você está vendo ele, não está? – Ele meneou a cabeça positivamente.
O fantasma estava parado na frente do carro, olhando para Diego friamente, como se estivesse o estudando há um bom tempo já.
– Vamos sair rápido daqui. – O rapaz deu partida no carro acionou a marcha ré.
– Diego, calma. – Paula segurou a mão dele. – Tente se concentrar, ele vai desaparecer. Controle-se, isso é coisa da sua cabeça.
Sem muitas opções, Diego resolveu ouvir sua namorada. Fechou os olhos, concentrou-se na orientação de Paula, respirou profundamente e inundou seu pensamento com mantras instantâneos do tipo “Isso é fruto de sua imaginação”, ou “ele vai desaparecer”. Diego abriu os olhos.
– Não vai pedir benção para o biza? – A assombração estava com o rosto colado ao dele.
Diego gritou abafado e acelerou o carro, saído em disparada. Paula se segurou o mais firme que pode, pois o caminho era cheio de rochas e terra. O fantasma riu e desapareceu em uma cortina de fumaça, o que deixou Diego mais apavorado ainda. Ele entrou na pista em alta velocidade. Paula olhou para o velocímetro que passava dos 130 Km/h.
– Diego, calma, vai devagar –, pediu ela.
– Não vai pedir benção para o biza?
– O quê? – Perguntou Paula sem entender.
– Foi isso que ele me perguntou, se eu não iria pedir benção para ele. – Paula olha para o velocímetro mais uma vez: 140 Km/h.
– Diego, reduz, por favor.
O rapaz não disse nada, porém atendeu o pedido da namorada. Foi desacelerando o carro até chegar a 80 Km/h. Estavam agora na avenida Leopoldina de Oliveira, em frente ao Mercado Municipal da cidade. Diego parou em um sinaleiro vermelho e, estranhamente, começou a rir. Paula, instantaneamente embarcou na onda do namorado começando a rir também, aliviada pelo fim do susto que passara. As risadas do garoto cessaram no momento que viu bem a frente, cerca de cinqüenta metros, ele. O espírito estava parado no meio da avenida de frente para o carro. Diego acelerou o automóvel disparando contra o espírito, que não moveu um centímetro se quer.
– Morre, filha da puta! – Exclamou o rapaz.
– Diego! – Gritou Paula.
Ele passou pelo fantasma como se fosse uma cortina de poeira.
– Não, é sua vez de morrer! – Disse a assombração, que reapareceu na frente dele entre seu corpo e o vidro dianteiro do carro, investindo uma mordida no pescoço do rapaz do mesmo modo que o fez em seu pesadelo.
Desesperado, Diego tenta controlar o carro e tirar a criatura de seu pescoço, mas parecia ser em vão.
– Cuidado! – Gritou Paula.
Um carro que descia em alta velocidade em uma das ruas que cortam a avenida Leopoldina de Oliveira, bateu em cheio no carro de Diego no lado do motorista.
Por fração de segundos, Paula viu o rosto do seu namorado. Ele estava com os olhos vermelhos, banhados de lágrimas. Não havia tempo para palavras serem proferidas, mas ela sabia que aquilo era um olhar de puro desespero emendado com um pedido de desculpas. Essa foi a ultima cena que Paula veria naquela noite.

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