segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

Capítulo IV - Corredores do Caos

Diego despertara. Ele se viu deitado em um leito de hospital. Ele não conseguia se lembrar de nada do que ocorrera, estava confuso ainda. O rapaz se levantou e caminhou pelos corredores. Era noite já e, estranhamente tudo estava vazio, parecia mais um hospital abandonado. Ele não fazia idéia de quanto tempo estava ali. Não avistou nenhum posto de enfermagem para tomar informação. Ele passou pela porta de um quarto e um vento gélido lhe gelou a espinha. “Entre” –, ele escutou sussurrado em seu ouvido. Diego olhou para trás, uma enfermeira chegou de supetão e abre a porta do lado de dentro saindo do aposento.
– Eu já volto –, disse a enfermeira para alguém no quarto. Ela deixou a porta aberta.
Diego voltou alguns passos e olhou dentro do quarto, tudo que conseguiu ver eram os pés do acamado, mas uma tatuagem peculiar no pé do paciente lhe chamou a atenção, era um beija-flor, a mesma tatuagem de Paula. Levado pelo susto, Diego entrou no quarto de uma só vez e viu sua amada deitada na cama coberta de escoriações e hematomas. 
– Paula! – Exclamou ele.
A mãe de sua namorada estava no quarto em prantos. O ódio dela era tamanho que ela o ignorou por completo. Ele se aproximou da namorada, não conteve as lágrimas. Como uma espécie de ligação intima, a mãe de Paula cai em prantos de maneira copiosa. A mãe afaga os cabelos da menina, alisando, impedindo a aproximação de Diego.
– Dona Carmem, o que está acontecendo?
Carmem ignora o rapaz intensificando o pranto.
– Ei, deixe as suas sozinhas –, disse uma voz atrás dele.
Diego olhou para ver quem era. Um homem vestido todo de branco, aparentemente um médico ou um enfermeiro, lhe encarava. Seu olhar não era reprovador, porém seu semblante era sério.

***

Fazia um tempo que aquele rapaz estava tratando de Diego. O jovem, curioso com os fatos perguntava insistentemente ao homem o que estava acontecendo, no entanto o homem de branco não o respondia. 
– Você é enfermeiro, certo? Pois se fosse médico não estaria trocando meus curativos, não é mesmo? – Silêncio. – Onde está o médico? Quando ele irá vir me contar o que aconteceu comigo? Preciso saber quando terei alta, tenho compromissos a cumprir.
– Diego, escute com atenção – disse o enfermeiro –, você não irá receber nenhum médico e muito menos terá como honrar seus compromissos.
– Como assim?
– Diego, você está morto.
– O quê?
– É isso mesmo, você está morto. – Diego se mostrou perplexo. – Houve um acidente, você, Paula e outro casal estava envolvido. Você sofreu traumatismo craniano e morreu ao dar entrada no hospital.
– Não, você está enganado.
Diego se levantou da cama e saiu do quarto em fulga. O homem de branco não foi atrás dele.
O recém desencarnado, inspirado de angustia, andou pelos corredores do hospital, porém Diego parecia estar em uma dimensão paralela. O local estava aparentemente devastado, com luzes fracas, hora acendia, hora não, às vezes simplesmente tremulavam. As paredes estavam com a pintura gasta, algumas partes sem reboco. A cor verde desbotava dava um ar caótico ao local, mas não tanto quanto as pessoas que habitavam esse hospital. Pacientes em leitos, sofrendo, gritando, clamando por cuidados, alguns pedindo perdão. Certa quantidade deles estavam amarrados na cama, alguns até mesmo amordaçados. Uma paciente em especial chamou a atenção de Diego. Uma garotinha com cerca de 6 anos estava em um quarto deitada na cama, sem a perna direita. A menina tinha seu corpo quase todo queimado. Diego se horrorizou com a visão. A garota respirava com dificuldade, o lençol de sua cama estava coberto de sangue.
Diego olhou para frente querendo evitar assistir mais do sofrimento daquela pequena garota. Ele estava lá, sorrindo no final do corredor. O rapaz olhando para seu algoz, disparou a correr no sentido oposto de onde ele se encontrara, quando ele se virou, trombou em cheio com o vilão, estatelando no chão. O homem aproximou o rosto velho do rosto aterrorizado de Diego.
– Agora estamos no mesmo mundo, moleque!

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