quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Capítulo XI – Um Imenso Abismo de Agonia


Paula estava na casa de sua tia Laís. Ela contara sobre a experiência que tivera com o tal espírito Sebastião.

– Filha, isso que aconteceu com você pode ter sido apenas um sonho mesmo. Não necessariamente algo espiritual. Isso pode ser sua própria mente tentando falar pra você deixar isso pra lá.

– Deixar isso pra lá? – Questionava Diego, participando daquela reunião. Sua presença deixava Paula aflita. Ela sabia, mas parecia não ligar muito. – Aquele capeta me matou e o outro lá todo bonzinho fala pra rezar pra ele? E eu? Eu quem sou a vítima aqui!

– É tia, talvez a senhora tenha razão mesmo...

– Ah, isso não vai ser tão simples assim.

Diego colocou a mão sobre a cabeça de Laís, que sentiu um imenso mal estar e levou a mão no peito e depois na garganta.

– Tia, tudo bem? O que a Senhora está sentindo? – Perguntou Paula preocupada, tentando ajudar a tia.

– Ai minha filha, uma sensação ruim. É como se alguém estivesse querendo se comunicar.

Diego estimulou o ectoplasma¹ sair de Laís. Ela sabia como fazer aquilo. Havia observado várias seções espíritas.

– Hora de explorar novas atividades!

Diego começou a conduzir o aparelho de Laís, que foi falando exatamente o que o rapaz queria.

– Paula... Paula.

–Sim tia, fica tranqüila, eu vou ligar pro resga...

–Paula sou eu, Diego. – A médium falava com dificuldade. Paula sentiu-se sem chão. Seu corpo inteiro gelou. Ela ficou atônita e surpreendida. – Eu sei que está... sei que está assustada, mas você precisa, você tem que encontrar.

– Diego, meu Deus! – Ela chorava – Eu sinto tanto a sua falta... Eu estou com tanto medo.

– Ache o 53 Paula, é a única esperança... – Era como se faltasse o ar à Laís ao falar –, É a única esperança para nosso filho, Paula.

– Mas que droga é essa de 53?

– Ache ele, Paula, encontre o 53.

Laís estremeceu o corpo e sua respiração que antes era ofegante, começou a voltar ao normal. Ela abriu os olhos e olhou para a sobrinha.

– Ai tia... – Paula segurou a mão de Laís. – Era o Diego. Ele me mandou procurar o 53 tia. Mas como eu faço isso sem ao menos saber o que é?

Diego olhava a cena da tia e da namorada.

– Gasta muita energia não é, muleque!

– Coronel Manuel Joaquim! – Diego disse sem olhar para o lado de onde veio a voz. O homem de sobretudo riu medonhamente.

– Fez bem, garoto! Ou ela encontra o 53, ou ela fará parte de nós!

– Seu desgraçado o que você quer? Que porra é essa de 53?

Ele olhou para o Coronel com um olhar que não expressava nada mais além de fúria. O Coronel riu mais uma vez, ele passou ou Paula e alisou seu rosto com sua mão suja e suas unhas grandes e podres. A vontade de Diego era de atracar com ele ali mesmo, mas ñ teve coragem. A presença do obcessor era tamanha que congelava os movimentos do garoto. Ele olhou para Daniel, repetiu a risada diabólica e saiu cruzando a parede da sala que encontravam-se.

– Tia, posso te perguntar uma coisa? – Disse Paula abraçada com Laís, que a confortava.

– Sim filha, o que é?

– O que sentiu quando Diego estava incorporado em você?

– Filha... Tristeza. Um imenso abismo no peito. Sinto muito, tudo que senti foi apenas angustia.

Paula fungou mais uma vez. Ela sabia o que tinha que fazer, apenas não tinha idéia de como.

***X***

1 - Ectoplasma: Substância mediúnica produzida pelos médiuns a qual serve de “combustível” para um espírito se comunicar de algum modo.

Capítulo X - Oração aos Mortos Diabólicos


Três noites? –, questionou Sebastião. – Não, Coronel não trabalha com tempo específico. Isso é algo que você deve deixar pra trás.

Paula e o espírito de branco caminhavam pelos corredores do cemitério. Ela havia contado tudo àquele homem. Ele se apresentara como um amigo e esteve disposto a ouvir a jovem.

– Aquele túmulo, o numerado 53, é lá que ele está enterrado, não é?

– Não Paula, aquilo é só um indigente. Eles são enterrados e posto números em suas lápides. Antigamente era assim.

– Até hoje é assim. – Um breve silêncio acomete àquela situação. – Sebastião, onde está Diego? Ele me trouxe até aqui, supunha que ele estaria aqui.

– Paula, eu sei que amou ele em vida, mas agora a condição dele é outra. Pelo seu próprio bem e da criança que espera, afaste seus pensamentos de Diego e do Coronel.

– O Coronel só me deixará em paz quando eu encontrar o 53. Do contrário ele virá atrás de mim.

– Manuel não virá a seu encalço, ele apenas está usando você para se livrar dos próprios fantasmas.

– Então como eu faço para evitar ele?

– Ore por ele!

– Orar, você está louco? Ele matou Diego e sinceramente, eu não vou pagar pra ver o que acontecerá comigo ou meu filho. Obrigada, Sebastião, você foi muito útil. Super...

Paula saiu batendo forte o pé, furiosa pelo conselho sem sentido do homem de branco.

– Paula, se eu pudesse realmente lhe contar o que Coronel Manuel Joaquim quer...

sexta-feira, 8 de julho de 2011

[OFF] Novidades virão por aí!





Olá pessoal!

O Tio Dooll aqui está subindo mais um "degrauzinho" na carreira de escritor! O segundo livro de A Crônica da Escuridão sai dia 10 de dezembro (YAY!). Ele irá se chamar: A "Crônica da Escuridão - A Ordem Dileriana".

Para quem não conhece a primeira parte da história (A Crônica da Escuridão - A Beira do Abismo Negro) pode obter mais informações neste blog aqui.

Abraços e sucesso à todos!

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Capítulo IX - Noite 2 (Parte 2)


Paula caminhava novamente na estrada de pedregulhos. Ela conhecia aquele local... aquela sensação. Ao longe ela pode avistar a banheira. Paula sabia o que tinha ali dentro. A jovem se aproximou.
Ele estava deitado lá, Diego.
Paula aproximou seu rosto do dele. Diego abriu os olhos e puxou ela para dentro da banheira novamente. Paula sabia o que estava acontecendo e, ela quis continuar com aquilo. Sabia que Diego jamais a faria mal. a garota olhava para o namorado dentro da água. Ele não a machucara, mas ele a levava para o fundo. Dentro dali não era uma banheira, parecia mais um lago profundo. Paula foi perdendo o ar e apagou, mas logo em seguida ela despertou em um cemitério. Era dia, o sol banhava o local deixando uma sensação agradável na pele. Haviam muitos túmulos ali. Paula teve a idéia de procurar um-a-um até encontrar o que esperava. O túmulo 53.
Ela sabia!
Diego não estava lhe levando para a morte, mas sim lhe indicando o caminho.
– Olá, Paula – ela olhou para o lado assustada. – Meu nome é Sebastião. – Disse o homem vestido de branco.

Bridge – Angustia


Paula caminhava por um caminho rochoso. O local era gris; desbotado. O vento gelado surrava sua pele fina. Alo longe, ela avistou uma banheira. A jovem foi em direção do objeto e olhou dentro dele. Diego estava deitado. Paula, de certa forma, sabia que estava sonhando. Ela se lembrara do sonho que o namorado a contara. Era mais um daqueles sonhos em que se sabe que está sonhando, mas não consegue acordar. Sonho; real; surreal ou não, Diego estava ali, permanecia dentro da banheira, inerte... morto. Ela mergulhou a mão e tocou o rosto do rapaz.
Paula chorou.
A garota acariciava o rosto do namorado e pranteava simultaneamente. Diego abriu os olhos e segurou a mão de Paula, a puxando para dentro da banheira.

***

Paula despertara.
Ela sabia que aqueles sonhos lhe acometeriam mais cedo ou mais tarde. A garota acendeu o abajur, se sentou na cama e ficou ali, estática. Lembrava do que o espírito lhe dissera na reunião daquela noite: “Existe uma salvação, encontre o 53”. O que ele queria dizer com aquilo? O que era esse tal 53? As perguntas eram muitas, mas Paula sabia que ninguém a responderia. A moça tinha que encontrar esse tal 53, do contrário – ela se lembrou das palavras do obsessor mais uma vez: “Você será mais uma dentre outros”.
Paula estava cansada, seu desgaste físico e emocional era grande. Ela tentou de diversas formas imaginar o que poderia ser o 53, mas o sono a acometera mais uma vez.

quinta-feira, 17 de março de 2011

Capítulo IX - Noite 2 (Parte 1)

Diego estava ao lado de Paula naquela reunião. A garota se mostrava atormentada por todos os pensamentos que passavam por sua cabeça naquele momento. Ela e sua tia Laís estavam em uma reunião espírita. Paula focava em Diego, queria se comunicar com o namorado, mas toda vez que ele se aproximava do médium psicofônico, uma luz branca intensa o repelia. Diego não conseguia estabelecer contato com Paula. A garota deixava escorrer as lágrimas ao ser influenciada pelo desespero do namorado, pela ânsia de uma comunicação. O rapaz tentou de diversas formas, mas a luz que o cegava o congelava, impedindo que concluísse com seu objetivo.
Uma risada opaca e medonha.
Manuel Joaquim. Ele se aproximara passo-ante-passo de Paula.
– Seu desgraçado! – Exclamou Diego. – Saia de perto dela.
– O que houve, fedelho? A luz não deixa comunicar? – Diego engoliu seco. – Deixe-me lhe mostrar como se faz!
Manuel, em um impulso, entrou naquela luz que envolvia o médium sentado a mesa. Diferente do que muitos pensam, a entidade espiritual não penetra no corpo do médium, o possuindo, ela na verdade permanece ao lado dele, exercendo sua influencia.
Laís, a médium, foi acometida pela influencia de Manuel. Ela gargalhou caracteristicamente como o Coronel. Seu tom de voz era repleto de deboche e raiva.
– Em que podemos lhe ajudar? – Perguntou o médium doutrinador¹.
– Vocês em nada, mas aquela garota ali sim.
Diferente da maioria dos casos mediúnicos, o aparelho² de Laís, que deveria expressar dificuldade ao falar, ofegante, mas não esboçou o tal. A influencia de Manuel era de tamanha intensidade que parecia que as palavras estivessem saindo por vontade própria da médium.
– Irmão, esse ódio não lhe ajudará, acompanhe esses irmãos de branco ao teu lado – tentava persuadir o doutrinador.
– Irmão de branco? – Manuel riu – Não há ninguém aqui além de mim e aquele pivete, mas ele não consegue se aproximar daqui. Sinto muito senhores, mas seu Deus não está aqui hoje! – Os presentes na reunião se entreolharam assustados.
– Irmão, sabemos que isso não é verda...
– Espere – interrompeu Paula. Todos a olharam. Manuel riu mais uma vez. – É comigo que ele quer falar.

***X***

1: Médium doutrinador: Pessoa responsável em uma reunião espírita em apaziguar os espíritos que chegam atormentados, induzindo-os a serem acompanhados por espíritos acolhedores / entidades superiores.
2: Aparelho: Termo utilizado para o corpo que o médium “empresta” em uma sessão espírita.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Bridge - Obviedade da Dor


Paula caminhava de um lado para o outro na recepção do laboratório. Um exame de Beta HCG confirmaria sua gravidez. Laís estava junto à sobrinha. Não quis deixar a garota desamparada em uma situação daquelas. Paula pensava nos últimos acontecimentos antes de Diego morrer. Ele sonhara com o Coronel por cinco noites seguidas antes do acidente. Cinco noites. Esse era o tempo que teria para impedir Manuel. Uma recepcionista do laboratório havia sorrido para Paula.
– O resultado do seu exame chegou! – Disse a moça com um sorriso amigável.
Paula foi até ela pegar o resultado do exame. Laís ficou de pé segurando as mão, aflita. Paula corria os olhos no papel timbrado, colocou a mão na boca na menção de surpresa.
– Eu estou grávida –, balbuciou à tia.
– Filha, fique calma, tudo que temos até agora são suposições, não se apegue a elas. Esse filho pode significar muita coisa.
– Sim tia, significa. Significa que eu tenho mais quatro noites agora.

terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

Capítulo VIII - Lástimas (Parte 2)


Coronel Manuel Joaquim.
Mesmo a Lei Áurea ter sido assinada em 1888, até meados da década de 50 ainda existia escravidão em Uberaba. Coronel Manuel era um que usufruía do direito banido. Senhor de uma vasta plantação de café, ele tinha uma grande quantidade de escravos em suas fazendas. Viúvo, ele esbanjava sua fortuna financiando festas repletas de álcool e prostituição. Ele não poupava seus três filhos: Humberto, Sebastião e Maria (em ordem de mais velho para o mais novo) das cenas grotescas e burlescas.
Os filhos sabiam da crueldade do pai. Com uma espécie de prazer interior, ele tratava seus escravos como animais. Não pestanejava em os torturar até a morte. Criou muitos inimigos ao decorrer dos anos. Pessoas na cidade diziam que Coronel Manuel registrava terras em seu nome, enxotava os moradores dali e se declarava dono. Um usurpador.
Maria, sua filha mais nova, tinha dois sentimentos latentes dentro de si: o temor pelo pai; e a paixão por Jair, um escravo da fazenda. Eles viviam um romance escondido, porém algo aconteceu, Maria engravidou.
Coronel Joaquim surrou o escravo até a morte. Dilacerou sua carne e deu para os cães da fazenda comerem. Sua filha foi trancafiada em seu próprio quarto. Tijolos foram colocados em portas e janelas, a única entrada era um pequeno vão para passar comida. O pai havia informado a todos que a menina só sairia de lá quando o bebê nascesse.
Maria teve o filho no quarto, sozinha, então o pai cumpriu sua promessa, mandou derrubar a parede de tijolos. Pela primeira vez em seis meses Maria viu a luz do sol. Momento em que ela chorou como uma criança. De forma fria e estúpida, Coronel Manuel retirou a criança dos braços da mãe. Maria nunca mais viu o filho. Coronel Manuel levou a criança até a casa de uma senhora que se dizia bruxa e lá ele sacrificou o bebê em troca de mais poder e fortuna, mas as coisas saíram de seu controle.
Algo estava cobrando de Manuel Joaquim todos seus pecados.
Maria cometera suicídio e, os filhos homens, do Coronel, vendo a que nível que a inescrupulosidade do pai chegou, resolveram interná-lo no Asilo para Loucos Doutor Paulo Lacerda.
Em 1951 Coronel Manuel cometeu suicídio, mas jurou vingança, prometeu destruir todos aqueles que fossem descendentes de seu sangue.
Em 1953, um incêndio na casa de Humberto teve como vitimas fatais sua esposa e seus três filhos. Dois meses depois Humberto se matou com um tiro na boca. Ele dizia ao irmão Sebastião que fora seu pai que provocara tudo aquilo, que fora ele havia assassinado sua família.
1954 Sebastião se casa com Graça, mas ela morreu no nascimento de Clara. Sebastião, que também dizia ver o pai morreu em 1976 de cirrose.
Clara era a única restante, mas ela teve um filho também: Diego. Manuel Joaquim veio atrás dos dois. Ele colocou Clara em um sanatório igual fizeram com ele e assassinou Diego.

***

– Tia, eu não sei se o Coronel vai vir atrás de mim agora por eu ter tido um relacionamento com Diego. A senhora acha isso possível?
– Filha, se formos seguir por essa linha de raciocínio, só existiria uma única explicação para ele vir atrás de você.
– E qual seria?
– Você estar esperando um filho de Diego.